sexta-feira, 7 de julho de 2017

Exposição no Sesc de Presidente Prudente/SP






Na última quarta-feira, 5 de julho, tive a oportunidade de participar da abertura da exposição “Espaços Forjados” em Presidente Prudente/SP, que une ferro, solda e formas que criam ilusão sobre o espaço que ocupam.

Juntamente com o artista Andrey Zignnatto (de Jundiaí) que também estava expondo; e o curador, Danillo Villa, de Londrina, participei de um bate-papo com o público sobre processos criativos e influências artísticas.

Confiram abaixo algumas fotos do evento! 
A exposição fica até outubro no Bosque do Sesc! 




















sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Desenhos




Evandro Soares | Sem título 1 | Foto: Paulo Rezende | 2016 | 125 x 156 x 0,5 cm | Desenho em nanquim sobre papel com metal    





Evandro Soares | Sem título 1 – vista lateral | Foto: Paulo Rezende | 2016 | 125 x 156 x 0,5 cm | Desenho em nanquim sobre papel com metal


 

Evandro Soares | Sem título 3 | Foto: Paulo Rezende | 2016 | 127 x 127 x 0,5 cm | Desenho em nanquim sobre papel com metal 






Evandro Soares | Sem título 5 | Foto: Paulo Rezende | 2016 | 127 x 127 x 0,5 cm | Desenho em nanquim sobre papel com metal






Evandro Soares | Sem título 1 | Foto: Paulo Rezende | 2015 | 75 x 95 x 0,5 cm | Desenho em nanquim sobre papel com metal 






        Evandro Soares | Sem título 1 – vista lateral | Foto: Paulo Rezende | 2015 | 75 x 95 x 0,5 cm | Desenho em nanquim sobre papel com metal





quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

A dimensão do desenho nas esculturas de Evandro Soares

The Dimension of Drawing in Evandro Soares’s Sculptures


Glayson Arcanjo de Sampaio*
Resumo: Este artigo descreve o processo de criação do artista brasileiro Evandro Soares, discorre sobre os procedimentos realizados por ele ao trabalhar com a matéria metálica (ferro e arame) através das técnicas de solda, corte e dobra afim de elaborar geometrias complexas nas esculturas produzidas, elucidando a vocação destas se portarem simultaneamente como desenhos espaciais - ou esculturas lineares, ao fazerem convergir, em um mesmo espaço expositivo, situações instalativas e recursos bidimensionais e tridimensionais.
Palavras chave: Escultura, desenho, perspectiva, geometria.
Abstract: This article describes Brazilian artist Evandro Soares’s poetic process. It discusses the procedures applied when working with metallic material (iron and wire) through welding, cutting and bending techniques in order to create complex geometries in his produced sculptures. This process points out the characteristic of his sculptures being simultaneously as spatial drawings or linear sculptures since they converge in the same exhibition space particular situations and two-dimensional and three-dimensional features.
Keywords: Sculpture. Drawing. Perspective. Geometry.

Primeira dimensão: ofícios do serralheiro-artista.
Evandro Soares, artista brasileiro nascido em Largo do Piritiba, Bahia, aprendeu, ainda jovem, uma gama de recursos técnicos e outros aparatos ferramentais que o conduziram ao ofício de serralheiro. Na serralheria construiu diversos objetos, como portões, grades, janelas e portas de ferro que seriam utilizados em casas e edificações comerciais.
Possuindo grande familiaridade com a construção de objetos e estruturas metálicas, soube tirar proveito das técnicas apreendidas para dar vazão a novas idéias, transformando o arame e o ferro galvanizado em esculturas que abordavam elementos representativos de seu cotidiano.
Ao manipular máquinas de soldagens, corte e dobra e se apropriar de recursos da serralheira transportando estas operações para o campo da arte, Soares reforça certa condição contemporânea que, não só está associada aos ofícios do artista em seu ateliê clássico mas se aproxima dos procedimentos e das manufaturas ligadas à indústria.
Segunda dimensão: decodificação e desenho
Para Evandro o desenhar sobre a superfície do papel passa por um refinado processo de codificação-decodificação. O artista quase sempre inicia seus projetos a partir de estudos em páginas de caderno ou folhas soltas. É que em seu ofício, sempre precisou antecipar problemas espaciais e geométricos formulando pontos, planos, retas e hiperplanos quando estes passam a ser planejados no espaço bidimensional (Figura 1).
Figura 1. Evandro Soares, páginas dos cadernos com desenhos. Foto: Acervo do artista.


terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A arquitetura de vazios e de sombras de Evandro Soares

Evandro Soares é um artista guiado por saber intuitivo que se faz pela vivência na construção do espaço e na elaboração da forma. De origem afrodescendente, oriundo da camada simples da população brasileira à qual é negado o acesso ao conhecimento acadêmico, teve que trabalhar muito cedo para ganhar a vida, e ainda jovem tornou-se artesão serralheiro dedicado ao ofício. Foi esta experiência profissional que deu base e estofo para a estruturação formal, técnica e poética de sua obra.

Evandro Soares faz uso inteligente do saber artesanal extraído da serralheria pra elaborar seu trabalho, que é distante da estética popular e próximo ao raciocínio erudito das vertentes geométricas construtivas, reducionistas e minimalistas dedicadas à investigação da autonomia da forma e do espaço plástico. Pautadas no rigor e na assepsia formal, suas operações são econômicas e se armam com poucos elementos: plano, linha, luz e sombra. O espaço arquitetônico de sua obra é construído pela fina linha de metal pintado de preto que se projeta do suporte, e se prolonga por meio de outra linha da mesma espessura desenhada a nanquim sobre a superfície; a forma fixada perpendicularmente ao suporte ao receber a luz lança sua sombra sobre a alvura do fundo, provocando o embaralhamento das perspectivas e agindo como multiplicadora da visão.

Em sua produção a noção de desenho expandido advém do hibridismo das categorias que aciona o trânsito entre desenho e objeto e instalação. Trata-se de um desenho que se aliena da tradição, com mancha gráfica mínima e sutil, com corpo próprio avançando no espaço tridimensional e se expandindo no espaço bidimensional, ora como matéria ora como sombra. Desenho sem lugar fixo tal como as escadas suspensas que acessam cômodos disfuncionais e que ligam o alto ao baixo e vice versa, tal como cubos que confinam espaços disfuncionais de habitar e de falar (como os balões usados nos desenhos HQ), formas que se repetem, se ligam e travam conversações entre si, levando o espectador a percorrer a obra com o movimento silencioso do olhar que se surpreende com o engenho da ilusão.

A produção de Evandro Soares sugere uma arquitetura frágil, aberta, vazada e vazia, cujo lugar é o deserto branco do suporte. Uma arquitetura de filamentos, simples e complexa simultaneamente, habitável apenas pela percepção e pela imaginação. Seja dentro do espaço da moldura como desenho-objeto seja diretamente afixada na parede como desenho instalação, sua obra planeja um lugar nenhum, possível apenas por meio da arte que refaz nosso conceito de mundo.

Embora próxima à linguagem construtiva a geometria de Evandro Soares não é fria e possui proposições de significados que aquela negava. Advinda de um conhecimento empírico ela se contorce na construção desse lugar nenhum que sobe e desce, se expande e se contrai, se fecha e se abre num movimento contínuo. É uma geometria que nasce da intuição, se configura como projeto despretensioso sobre um papel e se concretiza pelo exercício da solda e do desenho. A arquitetura construída por essa geometria apesar de inabitável e vazia suscita questionamentos e possibilidades de interpretação.

As escadas com andares descompassados que se estreitam  na parte inferior e se alargam na superior introduzem as ideias de ascensão e de risco de queda no trajeto. No Brasil historicamente escravagista e racista, que relega aos afrodescendentes a faixa inferior da sociedade, o artista negro não possui os mesmos meios de ascensão cultural e social que o artista branco vindo de extratos sociais mais elitizados, que dispõe de amplos recursos para produzir e fazer circular sua obra. Na maioria dos casos o artista negro vive da adversidade, trabalha em um lugar nenhum na quase invisibilidade e na margem do circuito de arte, sob o risco constante de cair ainda mais um degrau. Os mecanismos de subida, de acesso, de passagem propostos pela obra de Evandro Soares podem ser metáforas do processo de reação social e cultural dos que até bem pouco tempo estavam silenciados publicamente no meio de arte. É uma arquitetura de natureza sutilmente política.


Divino Sobral (artista visual e curador)